sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O fim de Outubro não é apenas o Halloween!

 Temos publicado algumas atividades que nos têm chegado sobre o Halloween. Mas estas celebrações, de origem Celta e muito frequentes na cultura anglo-saxónica, não são as únicas. Em Portugal, a tradição era o Pão por Deus. A professora Ana Brioso, que trabalha connosco aqui, na Biblioteca, enviou-nos uma publicação do Museu Arqueológico José Monteiro que nos fala sobre a tradição do Pão por Deus. Aqui fica a publicação do Museu Arqueológico José Monteiro, com os respetivos agradecimentos, bem como à prof. Ana Brioso.

A origem da tradição Pão por Deus em Portugal

As oferendas aos mortos são comuns em diversas culturas pagãs, incluindo a Celta, cujos homens habitaram o território que hoje conhecemos português. Acredita-se que foi com base nessas tradições, que lembram e homenageiam aqueles que partiram, que nasceu a festa do Halloween, assumindo contornos curiosos de país para país.
O peditório do Pão por Deus no nosso país está também associado a essa tradição de oferenda aos defuntos e celebra-se no Dia de Todos os Santos, ou Dia dos Fiéis Defuntos. O Dia de Todos os Santos era já chamado o Dia do Pão por Deus no século XV e nesse dia repartiam-se alimentos pelos mais pobres.
Este hábito ganhou força um ano após o grande terramoto de 1755 que destruiu completamente parte da capital e que aconteceu justamente no dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos.
Nessa época, a fome e a miséria sentiam-se pela cidade e reforçou a necessidade de partilha de alimentos com os mais necessitados.
Em 1756, as pessoas percorreram assim as ruas de Lisboa, batendo às portas e pedindo qualquer esmola, mesmo que fosse apenas pão. Dado o desespero, as pessoas pediram “Pão, por Deus”.
Em troca muitos pedintes receberam pão, bolos, vinho e outros alimentos para honrar os seus mortos e pedir pela sua alma.
Quando pedem o Pão por Deus, as crianças recitam versos e recebem como oferenda pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, tremoços, amêndoas ou castanhas, que colocam dentro dos seus sacos de pano, de retalhos ou de borlas.
São vários os versos para pedir o Pão por Deus:

Ó tia, dá Pão-por-Deus?
Se o não tem Dê-lho Deus!

Ou então:
Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus
.

Em Coimbra o canto é ainda mais completo:
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À bela, bela cruz
Truz, Truz!
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de s’alevantar
Para vir dar um tostãozinho.
Se dão doces:
Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.
Se não dão doces:
Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho.
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto

[Neste vídeo, pode ver-se o grupo Galo Gordo a cantar uma canção do Pão por Deus.]

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