Neste dia em que se assinala o Dia Mundial da Filosofia, foi colocado o seguinte desafio aos alunos: «Poderá a Filosofia contribuir para que se alcance maior conhecimento em benefício do bem-estar da humanidade? Ou, pelo contrário, a Filosofia, através da crítica, impede o progresso desse conhecimento vital para todos nós?»
Publicamos a resposta do António Veríssimo, aluno do 11CT2
Desde os primórdios, a Filosofia debate-se com o problema do conhecimento. Questões gnosiológicas e epistemológicas suscitam opiniões controversas entre os mais prestigiados filósofos. Um dos embates mais marcantes foi a questão da possibilidade do conhecimento e o problema da sua justificação. Neste último, podemos evidenciar dois flancos que defendem pontos de vista diferentes: os racionalistas, como Descartes, que defendem que o conhecimento pode ser justificado utilizando apenas a razão (“a priori”) e, por outro lado, os empiristas, como David Hume, que defendem que a única forma de justificá-lo é com o recurso à experiência (“a posteriori”). Isto, se o pudermos mesmo justificar… Quanto ao problema da sua possibilidade, a posição filosófica mais relevante é a do ceticismo, crença que defende que o conhecimento não existe, pois mesmo que acreditemos em algo verdadeiro, nunca o poderemos justificar. A propósito de conhecimento há ainda que perguntar: pode a Filosofia contribuir para que se possa alcançar maior conhecimento em benefício do bem-estar global? Ou, pelo contrário a reflexão e a crítica típicas da Filosofia fazem estagnar e retroceder o conhecimento?
Naturalmente, a filosofia não abrange só a área do conhecimento e, por isso, em todas as outras áreas filosóficas, quer seja na metafísica, na filosofia política, etc, pudemos observar, ao longo dos séculos, que umas tintas de filosofia foram fundamentais para o avanço e melhor compreensão de vários assuntos. Pegando na questão do conhecimento, podemos observar que existem diversos conceitos e questões abordadas que migram do mundo filosófico para a vida real e que têm mostrado vir a ser muito úteis no nosso quotidiano.
No entanto, ainda existem pessoas que defendem que a filosofia atrasa o conhecimento e impede a sua progressão. Para mim isto é, sem margem para dúvidas, falso. Imaginando que vivíamos num mundo completamente desprovido da crítica e reflexão, nunca haveria espaço para a progressão do conhecimento! Como poderíamos nós viver num mundo dogmático em que tudo o que disséssemos, quer estivesse certo ou errado, nunca era posto em causa? Resumindo, não haveria qualquer tipo de evolução intelectual ou espiritual e ficaríamos estagnados no tempo com os nossos supostos conhecimentos guardados para nós mesmos, em relação aos quais ninguém se atrevia a suspeitar da mais pequena dúvida. Assim, aquilo que faz alcançarmos um maior conhecimento é a inquietação de saber mais e expressarmos a nossa insatisfação sobre algo, até que esta “sede” de pôr tudo em causa se desvaneça com a verdade e realização pessoal. Descartes é o exemplo perfeito, na medida em que teve uma educação muito refinada num dos melhores e mais prestigiados colégios da Europa (La Flèche) - na altura, pouquíssimas pessoas tinham acesso a uma educação privada - e, mesmo assim, manifestou a sua insatisfação perante as “instituições do saber” que ele frequentara, pondo em causa todo o sistema de conhecimento da época. As deficiências que ele apontou ao «sistema de conhecimentos estabelecidos» exigiram a constituição de um novo sistema muito mais sólido e firme. Ou seja, foi a filosofar (assumindo uma postura de dúvida metódica) que ele assegurou a evolução e contribuiu para o alcance de um maior conhecimento. E que conhecimento!
Concluindo, a Filosofia contribui, na minha opinião, para que se alcance o maior conhecimento, em nome do bem-estar da Humanidade, pois não só nos permite ter ideias mais claras e firmes acerca do mundo, como também reformar o melhorar o conhecimento numa constante procura pela verdade.
[António Veríssimo (adapt.)]
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