segunda-feira, 27 de junho de 2022

Conferência dos Oceanos inicia-se hoje em Lisboa

A docente da equipa da Biblioteca e responsável pelo projeto do Plano Nacional de Leitura 2027 "Ler+Mar", recordou-nos que hoje se inicia, em Lisboa, a Conferência dos Oceanos, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas, em que Portugal participa ao mais alto nível na promoção de ações que visam o conhecimento e proteção dos Oceanos.

Mais informação pode ser vista aqui. Deixamos também o vídeo oficial de promoção da Conferência. Obrigado, Maria José, por nos alertar para a importância do conhecimento e da preservação dos oceanos.

terça-feira, 21 de junho de 2022

SOBE + Saúde Oral e Biblioteca Escolar: este foi o ano da EB1 de Alcaria

Decorreu hoje, na Escola EB1 de Alcaria, a atividade prevista no SOBE+ (Saúde Oral e Biblioteca Escolar) destinada a promover a saúde e higiene oral nas crianças do primeiro ciclo. Este ano, a atividade decorreu na localidade de Alcaria e visava os alunos e os encarregados de educação. A preparação dos alunos esteve a cargo da professora Helena Lindeza e envolveu o trabalho articulado da Biblioteca Escolar, do Clube de Leitura, do Programa Educação para a Saúde (PES), do Centro de Saúde do Fundão e da Farmácia Diamantino
Deste modo, deslocaram-se àquela Escola, para além de nós - professores bibliotecários - a aluna Laura Soares (10CT2), do Clube de Leitura do AEF, a responsável pelo PES no Agrupamento, Alda Fidalgo, Filomena Correia, do Centro de Saúde do Fundão e a especialista em Ciências Farmacêuticas, da Farmácia Diamantino, Natália Craveiro.
A atividade despertou o interesse dos alunos que colaboraram ativamente nas atividades propostas e se envolveram numa (quase coreografada) sessão de músicas cantadas e adaptadas à higiene oral, graças ao notável trabalho da Dr.ª Natália Craveiro, a quem convidamos para trabalhar connosco mais frequentemente.
Agradecemos a todos os participantes e esperamos que os nossos jovens alunos ponham em prática as aprendizagens realizadas.

As atividades


As músicas

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Os nossos projetos estão no Plano Nacional de Leitura 2027!

Fomos das poucas escolas do país apoiadas em 2022 no âmbito da candidatura aos projetos de Os 4 Elementos do Plano Nacional de Leitura 2027. Não podíamos, por isso, deixar de partilhar os excelentes trabalhos realizados e felicitar todos os que trabalharam de forma articulada com a Biblioteca Escolar.



Projeto "Ler+Mar" - congratulamos os alunos João Belchior, Eduardo Faria, Bruno Ponte, Diogo Silva e Inês Dias, do 11º ano, bem como as professoras envolvidas no projeto: Maria José Pires, Anabela Santos, Teresa Correia e Ana Raposo.



Projeto "Terra Mater" - congratulamos os alunos Afonso Covas e Lara Nunes (10CT2) e Mafalda Morais (TAS21) e as docentes Maria João Batista e Alda Fidalgo.

               https://earth.google.com/earth/d/1XIBTienNqCwwNthwhsxxWHQvPmNMAAHq?usp=sharing


Projeto "O Fogo de Prometeu" - congratulamos o aluno Tiago Carmona (8ºC) e as docentes Martínia Gordino, Paula Gonçalves e Isabel Ferreira.      

                 

Excelentes trabalhos resultantes de um grande envolvimento por parte de docentes e alunos, numa articulação que desejamos que continue a ter muitos outros sucessos futuros!

Quem desejar visualizar estes trabalhos no sítio do Plano Nacional de Leitura (PNL2027), basta clicar aqui.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Último " Problema do Mês" - Matemática do 2º Ciclo - entrega dos prémios e certificados

 Decorreu hoje, na Biblioteca, a entrega dos prémios e certificados aos alunos vencedores do nosso habitual concurso “Problema do Mês” dirigido aos estudantes de matemática do 2º ciclo do ensino básico. Esta última edição teve como vencedores os alunos Gustavo Simões, Lara Costa, e Matilde Marques, todos alunos do 6D. O José Pais, do 6A, teve ainda direito a uma menção honrosa. 
A novidade deste último desafio matemático foi a participação dos Pais e Encarregados de Educação dos alunos do 2º ciclo que também foram desafiados a resolver um problema matemático. Participaram e estiveram presentes nesta entrega de certificados e lembranças da Biblioteca, a mãe da Matilde Marques (6D), Cláudia Marques e o pai do Gil Ponte (6B), Paulo Ponte. Os restantes participantes, que não puderam estar presentes, Sérgio Santos, pai da Lara Santos (6B); José Carlos Silva, pai do Afonso Silva (6B); Sandra Esteves, mãe do Henrique São Pedro (5A) e Paulo Santos, pai do Santigo Santos (5C) têm à guarda da Biblioteca os respetivos certificados e lembranças. 
Todos os participantes obtiveram a menção de “Muito Bom” e apenas os distinguiu o tempo que demoraram a fazer-nos chegar as suas respostas ao “Problema do Mês”. 
A pequena cerimónia contou com a presença da Professora Maria João Baptista que representou a Direção do Agrupamento e do professor Alberto Nogueira, da Equipa da Biblioteca e principal responsável pela iniciativa. 
A Biblioteca, que sempre aposta no envolvimento dos Pais e Encarregados de Educação na promoção das várias literacias junto dos seus educandos, agradece aos alunos e respetivas famílias a participação nesta atividade à qual espera dar continuidade no próximo ano letivo.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

8 de junho - Dia Mundial dos Oceanos

 Hoje, dia 8 de junho, celebra-se o Dia Mundial dos Oceanos. Neste dia, pretende-se lembrar a importância dos oceanos, informar o público sobre o impacte das ações humanas no equilíbrio dos ecossistemas e mobilizar e unir a população mundial num projeto de gestão sustentável dos oceanos.

Este dia foi proclamado através da Resolução 63/111, adotada na Assembleia Geral das Nações Unidas de 5 de dezembro de 2008. Neste ano, o tema é “Revitalização: Ação Coletiva para o Oceano”.

O dia é assinalado na escola com uma exposição do projeto Ler+Mar, do PNL2027.

[Professora Maria José Pires]

Podcast "Minuto Azul" dedidado ao Dia Mundial dos Oceanos




sexta-feira, 3 de junho de 2022

Manuel Guilherme de Almeida - um alfaiate do Fundão

A professora de História A, Ana Brioso, quis promover, com os seus alunos,  a relação da escola com a cidade e, simultaneamente, contribuir para a Educação para o Património local e regional. Foi por isso que levou os seus alunos a visitar a exposição que está patente na Moagem - Cidade do Engenho e das Artes - para homenagear o destacado alfaiate Manuel Guilherme de Almeida, natural do concelho do Fundão.
Os alunos foram encorajados a escrever um texto que descreve a sua experiência nesta visita e que publicamos em seguida. Obrigado, professora Ana e obrigado alunos pelo vosso contributo.


No dia 02/06/2022, no âmbito da disciplina de História A, visitámos a exposição atente na Moagem Cidade do Engenho e das Artes, que homenageia Manuel Guilherme de Almeida, alfaiate de profissão e um dos fundadores do partido comunista Português. A exposição tem curadoria de Pedro Novo, Diamantino Gonçalves e Isaura Reis.

Manuel de Almeida nasceu em Janeiro de Cima no Fundão, e muito novo viaja para Lisboa onde termina o ensino primário, não prosseguindo estudos por questões económicas, iniciando-se então como aprendiz de alfaiate, arte pela qual se apaixonou tornando-se rapidamente mestre de alfaiataria. Convicto nas suas crenças não poupou esforços para lutar pela liberdade e dignidade, promovendo a revolução dos cravos que decorreu mais tarde na madrugada de 1974. Em 1934 funda a Academia de Corte Geométrico, onde chega a ensinar a sua maestria. Inicia a sua atividade de associativismo profissional na Associação Fraternal da Classe dos Operários Alfaiates de Lisboa, e a partir de então vê a sua vida cheia de episódios de confrontos e detenções com privações e tortura, como por exemplo, a 26 de agosto de 1931, que ocorreu por ser considerado suspeito de envolvimento em tentativa revolucionária, tendo sido deportado para Timor, chegando então a estar detido nove vezes, contabilizando assim um total de oito anos de prisão. Apesar de uma vida atribulada nunca se dissociou dos seus ideais, e junto de outros funda em 1921 o partido Comunista Português, onde internamente adquire grande importância, chegando a fazer parte do Socorro Vermelho Internacional apoiando então diversos presos políticos, vítimas da repressão do regime Salazarista durante o Estado Novo.

Na nossa opinião, achamos que a exposição foi muito interessante, pois ficámos a conhecer mais uma figura ilustre do nosso concelho. Pensamos que a exposição estava bem organizada e continha elementos pertinentes que ilustravam a vida e a obra de Manuel Guilherme de Almeida, como por exemplo, a casaca de fino corte, desenhada pelo próprio para uma festa.

Também apreciámos o facto da informação estar clara e sucinta pois foi de fácil leitura e compreensão uma vez que permitia que circulássemos entre os vários expositores o que tornava a mesma mais interessante e dinâmica. Estavam também expostos, alguns materiais do Estado Novo para ilustrar a perseguição política e as consequências sofridas por aqueles que se opunham ao regime de Salazar.

Achamos bastante interessante o facto de, mesmo sendo um potencial alvo de silenciamento e perseguição por parte das instituições de repressão do regime, chegou a transformar o seu local de trabalho num abrigo à clandestinidade política. Para além disso mostrou-se uma figura resiliente e convicta nas suas crenças, lutando constantemente pela liberdade e pela dignidade, tanto dos seus parceiros de trabalho quanto do povo português em geral, desejando por um país livre onde todos pudessem exercer livremente os seus direitos.

Para concluir, foi uma experiência muito interessante pois conhecemos uma nova personalidade distinta a nível nacional e local, uma vez que é nosso conterrâneo e participou ativamente nas novas conquistas que o povo português conseguiu alcançar através da revolução mais importante do nosso país, dando-nos os direitos que hoje temos e conhecemos, mas que cada vez mais se encontram em perigo e que esperamos não caiam no esquecimento.

[Diogo Garcia, João Gonçalves e Margarida Fernandes, 12ºLH]




quinta-feira, 2 de junho de 2022

Uma viagem pela Química

Os nossos leitores mais assíduos recordar-se-ão dos contributos extraordinários para este blogue das alunas Luana Abelho e Luna Gamanho, desde o passado ano letivo. Hoje enviaram-nos uma notícia que dá conta de uma viagem ao mundo da Química, realizada pelos alunos finalistas da prova a nível de escola das Olimpíadas de Química Júnior, para participar na semifinal que decorreu na Universidade da Beira Interior. Aqui fica o registo das alunas num excelente texto escrito a duas mãos. 

Obrigado e parabéns, fantásticas Luana e Luna!

Uma Viagem pela Química

No passado dia 7 de maio de 2022, os alunos do AEF, finalistas da fase a nível de escola das Olimpíadas de Química Júnior, deslocaram-se até à Universidade da Beira Interior para participar na semifinal.  

Pelas 9h30 da manhã, iniciou-se a viagem de autocarro até à UBI, sendo as 3 equipas do nosso agrupamento acompanhadas pelas Professoras Fátima Amaral e Elisabete Almeida. 

Todos os participantes, bem como os professores acompanhantes, foram recebidos no Auditório das sessões solenes da Universidade da Beira Interior. No Auditório, o Presidente do Departamento de Química encorajou os alunos à participação neste tipo de provas, informou todos os presentes acerca de uma pesquisa/projeto da faculdade, bem como da existência de um espaço onde as pessoas poderão conectar-se à ciência, «Porque a Química é, afinal, a ciência de nós próprios e do universo que nos rodeia», tal como diz Nuno Maulide. Depois do discurso do Presidente do Departamento de Química, foi divulgada a duração das provas laboratorial e teórica, bem como algumas informações importantes sobre as mesmas. 

Relativamente à prova laboratorial, um dos primeiros grupos a efetuá-la foi a equipa «L2M», uma das três equipas do nosso agrupamento. Nesta prova, o principal desafio foi mesmo o tempo tão reduzido para efetuar os questionários relativos às experiências em laboratório, que iam desde reações ácido-base até ao cálculo da densidade. 

Depois destas provas tão rigorosas, chegou a hora dos alunos e professores recarregarem as suas energias com um delicioso almoço na Cantina das Engenharias da UBI, onde todos puderam conviver. 

Após um almoço bem merecido, alunos e professores dirigiram-se novamente para o Auditório das sessões solenes da UBI, ficando a saber quais as equipas que tinham conquistado o pódio. Apesar de nenhuma das três equipas do nosso agrupamento ter passado à fase nacional, os alunos ficaram de coração cheio com a experiência que levaram. Como diria Fernando Pessoa «Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo».

[Luana Abelho, 9C e Luna Gamanho, 9A]

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Projeto "Sinfonia Muscular" - Metamorfoses 2022

Não podíamos deixar de partilhar convosco o projeto "Sinfonia Muscular", candidato ao METAMORFOSES 2022, uma iniciativa de parceria entre o Plano Nacional de Leitura 2027, a Ciência Viva/ESERO Portugal e o Gabinete de Comunicação de Ciência da Fundação Champalimaud. Este projeto tem um trabalho de escrita - o conto Física Melódica e um trabalho de vídeo - que mostra as várias fases de execução do projeto.

Queremos congratular os alunos Rodrigo Fortuna, Lucas Sousa, Pedro Frazão, Nuno Dias, Afonso Ramos e Guilherme Moreira, do 12ºCTCSE e docentes Teresa Ramos e Cesaltina Neves, que coordenaram o projeto.

Que este trabalho continue a inspirar trabalhos futuros!


Física melódica

 

O relógio da torre da igreja de uma pequena cidade toca. Soam as doze badaladas. Enquanto isso, Fátima, uma (ainda) jovem de trinta e cinco anos, dá à luz o seu segundo filho. Desta vez um rapaz, que sucede a Maria, a primeira filha do casal, já com os seus atribulados catorze anos. Contudo, com uma pequena particularidade, o já apelidado Francisco nasce sem as suas duas mãos. Trata-se de uma complicação de última hora, que assola, ainda que momentaneamente, médicos e família presentes, que num silêncio ensurdecedor consomem a sala do bloco operatório. É, de facto, algo que nada fazia prever e que, evidentemente, toma conta dos murmúrios e conversas de corredor do hospital.

Num gesto de profundo amor, Fátima recebe com o entusiasmo natural o seu segundo filho, como se do primeiro se tratasse. A sua reação personifica, de facto, o expoente máximo do amor que qualquer pessoa pode imaginar. É o amor de mãe no seu estado mais puro e virginal.

            Cerca de quarenta e oito horas depois do parto, a família de músicos regressa a casa, um lugar agora dissipado pela felicidade e alegria, fruto do nascimento de mais um membro da família. Romeu, o pai, coloca a chave na fechadura e prontamente todos se dirigem à sala de estar, onde a D. Isabel, avó da criança, já se havia prontificado a acender a lareira, que com um calor aconchegante colmatava o frio cruento que se fazia sentir no exterior. A família reúne-se à lareira. Conversam sobre o facto de nada fazer prever a deficiência física que a criança recém-nascida apresentava. Maria, a mais velha, senta-se ao piano e toca a sua mais recente aprendizagem, Für Elise, de Ludwig van Beethoven. A sinfonia musical invade o ambiente (ainda pesado) que se fazia sentir na habitação.

            Cerca de meia hora depois, a família senta-se à mesa para jantar, já com o mais recente membro da mesma adormecido no berço do quarto dos pais. Fátima, violinista, Romeu, percussionista, e Maria, a já multifacetada música da família, com vasta experiência em cordas e percussão, ainda que com os seus 14 anos, conversam à refeição. O futuro legado da família toma conta do diálogo, o qual Fátima prontamente interrompe e, num ato bastante convicto, afirma: Vai ser pianista, não tenho qualquer dúvida!. Maria, na sua inocência, comenta: “Mas mãe, como? O “mano nasceu sem dedos…”. De imediato, sem sequer permitir a Fátima uma justificação, Romeu confessa: “Para jogar ténis de mesa, na teoria, também precisas de mãos, e ainda assim há quem pratique a modalidade com essa deficiência”. 

Os ponteiros do relógio começam a chegar perto da meia noite, e os pais certificam-se que tudo está bem com Francisco, enquanto Maria escova os dentes, e logo se deita.

            No dia seguinte, Romeu deixa Maria na escola, enquanto Fátima fica em casa a cuidar de Francisco.

            Há uma questão que perturba Maria, como nenhuma outra matéria da escola o é capaz de fazer: Como será que o seu irmão mais novo conseguirá dar continuidade ao legado musical da família?.

            São já nove da manhã, a filha mais velha do casal começa a sua aula de Física e Química. A professora fala dos estímulos nervosos dos músculos, capazes de desempenhar funções que outrora apenas os membros podiam desempenhar. Faz-se luz na cabeça de Maria: poderá ser esta a solução para o pequeno irmão? Toda uma inquietação consome o pensamento de Maria durante as restantes horas que passa na escola. 

No regresso a casa, a jovem desata a correr pelas escadas acima e, num ápice, abre o tampo do seu computador portátil e desata a pesquisar por artigos relacionados com o que havia dito a professora durante a aula. Eis que um dos artigos lhe prende toda a atenção: “Estímulos musculares: Os movimentos do futuro.” Com um sorriso de orelha a orelha, desce ao andar de baixo e relata a sua descoberta à mãe que, com um olhar cansado, lhe pede que lhe volte a explicar no dia seguinte.

            São já sete e meia da manhã em ponto do dia seguinte, e Maria corre com o seu portátil na mão para junto de Fátima, que estranha todo aquele entusiasmo matinal, nada típico da filha. 

  • Mãe, mãe…Lembras-te de dizeres que o mano ia ser pianista? Acho que tinhas razão!!
  • Mas filha… Eu sei que… Eu sei que disse isso, mas temos que ser realistas, é muito difícil isso vir acontecer com todas as limitações do teu irmão…

A filha, desolada com as afirmações da mãe, parte para mais um dia de aulas com um desassossego permanente, perante tal discurso. É toda uma inquietação que aborrece o dia de Maria, por saber que, nas condições atuais em que se encontra, pouco ou nada pode fazer para ajudar o seu irmão mais novo, Francisco.

Maria chega à escola por volta das nove horas, para a sua primeira aula do dia, que seria de Português. O facto de estar pouco atenta à matéria que estava a ser lecionada, uma vez que não parava de pensar no seu irmão, despertou uma certa atenção na professora que, no fim da aula, lhe pediu que permanecesse na sala. Questionou-a então acerca da sua falta de concentração, pouco habitual até à data. Nisto, a jovem desabafou acerca do assunto que a inquietava nos últimos tempos. Maria começou por explicar a deficiência física do seu irmão mais novo, Francisco, que desde novo deixou claro que seria a continuação do legado musical da família.

  • Sempre foi aquilo que o acalmou. O piano, as sinfonias de Beethoven, Mozart, etc. Nunca vi uma criança tão nova e com tanto amor pela música como o vejo a ele. - afirmava Maria, com toda a convicção.
  • É de facto extraordinária toda essa envolvência do seu irmão no mundo da música - reiterava a professora, num tom triste - Mas ao mesmo tempo, e com muita tristeza minha, o que ele necessita para dar continuidade a todo esse legado musical da sua família, ultrapassa a minha área de atuação.
  • Mas… Professora… Não conhece alguém que me possa ajudar? Pode ser um contributo mínimo! Só quero mesmo que o meu irmão seja feliz, independentemente da doença que o afetou à nascença. Sabe, tal como dizia a professora de Física e Química numa das suas últimas aulas, não nos devemos reger apenas por aquilo que temos à nossa disposição, devemos sim pensar “fora da caixa”, seguir os nossos sonhos, independentemente dos obstáculos que surjam à nossa frente…
  • Eu compreendo Maria. Aliás, ainda bem que falaste na professora Celestina! Acho que ela poderia ser um excelente auxílio para conseguires ajudar o teu irmão. No Clube de Física, costumam desenvolver-se projetos para concursos e até mesmo para eventos de caridade. Talvez um deles pudesse ser útil.
  • Excelente ideia professora, vou falar com a professora Celestina.

            Maria saía então da sala, animada com a ideia que lhe sugeriu a professora de Português. Encantada com o conselho, desce então a escadaria em direção à receção da escola. Num pequeno quadro de cortiça, estava então afixado o horário de funcionamento do Clube de Física.        

Estava então na hora de regressar a casa, hoje com um ânimo diferente, com toda uma alegria que culminava num sorriso de orelha a orelha ao colocar a chave na fechadura da porta de casa.

            Ao entrar, a avó, Isabel, cuidava de Francisco, embalando-o ao som da Sonata nº 16 para piano em dó maior, de Wolfgang Mozart. A felicidade melódica inundava o ambiente. A pouca esperança de Maria em conseguir ajudar o seu irmão, transformara-se agora na expectativa de desenvolver um projeto que, além de ajudar o seu irmão mais novo, traria todo um mérito para o estabelecimento de ensino que frequentava.

  • É o melhor de dois mundos - cogitava a jovem, deitada na sua cama, a olhar para o teto com um sorriso contagiante.

No dia seguinte, Maria acordou mais cedo que o costume, para espanto dos seus pais. Num ápice, tomou banho, vestiu-se, tomou o pequeno almoço, lavou os dentes e correu para a escola, como se tivesse um compromisso importante ao qual não podia chegar atrasada. De facto não tinha, mas era o dia em que poderia começar a resolver o problema que tanto a incomodava.

            Após as aulas da manhã, almoçou e prontamente se dirigiu para o laboratório de física, onde a professora da disciplina já aguardava pelos alunos, para dar início às atividades do Clube de Física. Maria foi a primeira, e prontamente se dirigiu em direção à professora:

  • Professora, professora! - exclamava, ainda ofegante.
  • Relaxa Maria! A que se deve tanto entusiasmo? - dizia a professora, interrompendo-a.
  • É que estive a falar com a professora de português, que me disse que os projetos que desenvolve no Clube de Física poderiam ser úteis para resolver o problema do meu irmão mais novo.
  • E que problemas são esses que tanto te esgotam? - interrogava a professora, em tom de curiosidade.
  • Então… Desde sempre que a minha família foi muito ligada à música. Sempre crescemos ao som das mais belas melodias do piano, brincávamos com instrumentos musicais, e riamos ao som da música. Mas há um tempo, o meu irmão nasceu com uma deficiência física, que o impede de tocar piano, mas li uma notícia que me deu ânimo para tentar ajudá-lo. - afirmava, convicta.
  • Fala-me mais acerca dessa notícia… Como é que pode ser efetivamente útil? - questionava a professora.
  • Bem, a notícia falava acerca de impulsos elétricos gerados pelos nossos  músculos, então pensei que talvez pudessem substituir o toque nas teclas do piano, e assim o meu irmão conseguiria tocar.
  • É de facto uma ótima ideia, a uma certa tensão estaria associada uma determinada nota musical, e através de sensores poderíamos pôr em prática essa ideia. Além disso, é um excelente projeto para levar ao Concurso Nacional de Física.

Terminando a conversa animadora, prontamente Maria e a professora começaram a pôr em prática as ideias que haviam surgido. A docente tratou de juntar todo o material, e a aluna de fazer o esboço de um protótipo biónico capaz de dar conta das necessidades envolvidas. Uma longa tarde se avizinhava, uma vez que o concurso estava mesmo à porta. Após longas horas trancadas no gabinete de física, do auxílio do professor de programação da escola, e de inúmeras falhas ao imprimir o objeto a três dimensões, finalmente estava concluído o protótipo do objeto. 

            Faltavam agora dois dias para o Concurso Nacional de Física. Maria não conseguia parar de pensar na felicidade do seu irmão ao dar conta de que finalmente conseguiria tocar piano, mesmo que tenha nascido sem os dedos das suas mãos.

            Na manhã do tão esperado dia, Maria juntou-se com a professora de Física e Química e com o docente da área da programação, no gabinete onde haviam passado todo o tempo a desenvolver o objeto com o qual iriam concorrer na prova. O ambiente era tenso, os três ansiavam pelo melhor. Todos queriam que o objeto funcionasse tal como planeado, sem qualquer tipo de falhas, para que essa noite se transformasse na melhor das suas vidas. Testaram o funcionamento, a parte programável e os sensores musculares. Tudo funcionou em perfeita sintonia, para deleite dos três. Maria regressara então às aulas que lhe restavam do dia que se avizinhava longo. 

            Eram agora seis em ponto, e o auditório da pequena vila onde residiam acolhia orgulhosamente o Concurso Nacional de Física. A jovem, acompanhada da sua família e, em especial, do seu irmão, sentou-se na primeira fila a contar do palco. De mão dada com as professoras que a ajudaram incansavelmente, aguardava que fosse chamada para apresentar o seu projeto ao júri.

  • E peço agora um grande aplauso para… Maria!!! - entoava o speaker do evento pelas colunas do auditório.

Maria subia então ao palco, com um nervosismo característico de uma cerimónia de tal magnitude. Após um suspiro profundo, começou a sua apresentação, sobre o olhar atento dos jurados. Maria chama então seu irmão ao palco, ao mesmo tempo que os funcionários do espaço colocam um piano de cauda, imponente, em palco. Era a cartada de ouro de Maria para vencer o concurso. Era o momento chave, aquele que traria a felicidade ao seu irmão, aquele que seria a recompensa de todo o esforço dos últimos meses. O pequeno, desde sempre educado a nível da música, coloca o objeto biónico. No mesmo instante, desata a tocar a sua composição favorita, Für Elise, de Beethoven. Todos na sala se levantam, e aplaudem o feito magnífico de Maria, que conseguiu fazer com que o seu irmão tocasse piano, nas suas circunstâncias. A sala estremece com os aplausos e os jurados ficam encantados com a prestação da dupla de irmãos. 

Alguns minutos depois, a escola de Maria é anunciada como a grande vencedora do concurso, arrecadando o primeiro prémio no valor de quinze mil euros em computadores para o estabelecimento de ensino. 

Contudo, para Maria, a maior vitória era a que surgia bem patente no rosto de Francisco. O sorriso inundado pelas lágrimas de felicidade eram o espelho de todo o esforço da jovem para dar uma nova vida ao seu irmão.

Assim, Maria encerrou a celebração com um discurso comovente:

  • O que assistiram hoje, aqui, é a prova viva de que, tal como dizia António Gedeão, o sonho comanda a vida!

 

Texto produzido pelos alunos Afonso Ramos, Guilherme Moreira, Lucas Sousa, Nuno Dias, Pedro Frazão e Rodrigo Fortuna, alunos da Escola Secundária c/ 3ºciclo do Fundão, código 504074, para o projeto Sinfonia Muscular candidato ao METAMORFOSES 2022, uma iniciativa da parceria entre o Plano Nacional de Leitura 2017-2027 (PNL2027), a Ciência Viva/ ESERO Portugal e o Gabinete de Comunicação de Ciência da Fundação Champalimaud.

Madalena Castro no Leituras (Com)Vida

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