sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Ainda a propósito do Dia Mundial da Alimentação

 Alimentos coloridos… cuidado, analise o rótulo!

Desde a antiguidade que o homem sente necessidade de conferir cor aos alimentos para os tornar mais apelativos. Aos produtos que não possuem a cor pretendida adicionam-se corantes, cujas propriedades têm mudado ao longo dos tempos. Começou-se pelos corantes naturais, extraídos de plantas, animais e materiais existentes na Natureza, até aos nossos dias, em que a maior parte dos corantes utilizados na indústria alimentícia são sintéticos.

 A cor é, provavelmente, o primeiro critério de escolha de um produto. Não há dúvida de que a cor é uma das características que são avaliadas em primeiro lugar pelos nossos sentidos. Todos já nos deparámos com locais que privilegiam a venda de guloseimas coradas com o intuito de aliciarem as crianças. É fácil encontrar bancas/montras extremamente coloridas que as atraem magneticamente. A maior parte destes produtos, tão consumidos pelos mais jovens, têm adicionados corantes sintéticos, que hoje são produzidos em grande escala por terem um processo de produção fácil e barato. Estes são designados por corantes azo e podem encontrar-se em gomas, bolachas, gelados, gelatinas, pastilhas elásticas, etc.

Se é importante ter em conta os efeitos prejudiciais do açúcar presente nestes alimentos na saúde e comportamento das crianças, não é menos importante focarmo-nos nas consequências da ingestão de alimentos corados artificialmente. Estudos mostram que em crianças com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), os sintomas se agravam quando ingerem este tipo de alimentos. Esta situação, por vezes, não é compreendida, quer por pais, quer por professores e educadores, por não conseguirem identificar as causas desta alteração. É mais ou menos consensual que existe uma relação direta entre a ingestão destes corantes e o agravamento dos sintomas de PHDA, justificada com o facto desse consumo levar à diminuição de zinco e de ferro no plasma sanguíneo. Os corantes azo têm a capacidade de formar quelatos, estruturas derivadas da ligação entre moléculas de corante e os iões destes metais, levando, consequentemente, ao aumento da sua excreção através da urina. Estes metais são fundamentais para o normal funcionamento do cérebro e a sua carência conduz ao agravamento de sintomas de desatenção e outros típicos da PHDA.

Tendo em conta os resultados de vários estudos publicados sobre esta temática, a União Europeia decidiu emanar diretivas nas quais são referidos os corantes, e respetivos códigos, permitidos nos géneros alimentícios, tendo passado a ser obrigatória a inclusão na rotulagem de alimentos que os contenham, a menção:
 “Pode causar efeitos negativos na atenção e atividade das crianças”.
 Os corantes em causa são: Amarelo-sol (E110); Amarelo de quinoleína (E104); Carmosina (E122); Vermelho allura (E129); Tartarazina (E102); Ponceau 4R (E124).
[REGULAMENTO (CE) N.o 1333/2008 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO, de 16 de dezembro de 2008 relativo aos aditivos alimentares, Anexo V]
Para além dos efeitos derivados da ingestão dos corantes referidos, existem outros relacionados com substâncias resultantes da sua degradação, que se suspeita serem cancerígenas. Assim, devemos estar sempre atentos aos rótulos das embalagens de alimentos corados e decidir não os consumir, caso contenham estes corantes, são desaconselhados em qualquer idade.

Na realidade, a indústria alimentar produz alimentos maus, mas cada um de nós só come o que quer.

Referências:

https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/87711/1/M_Gabriela%20Antunes.pdf  (15/10/2020)

http://serv-bib.fcfar.unesp.br/seer/index.php/alimentos/article/viewFile/865/744 (15/10/2020)

 

[Maria José Pires]


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