|
fotografia de Manuel Abelho |
|
fotografia de Manuel Abelho |
O
fim de semana passado enriqueceu culturalmente as terras do Fundão e arredores
com o 2º Festival Literário da Gardunha.
Abriu
ao público 5ª feira, com o workshop de escrita de viagens com Rui Pelejão e
Jorge Flores.
6ª
feira, Inês Pedrosa apresentou o seu livro Desamparo.
Entre
sábado e domingo muitos foram os escritores que conversaram e apresentaram
algumas das suas obras, sempre aludindo ao tema escolhido para o festival, “Lugares Imaginários”.
Tatiana
Salem Levy, Inês Pedrosa, Nuno Júdice, Valério Romão, Raquel Ochoa, Pedro
Eiras, Ana Cássia Rebelo, Susana Moreira Marques, António Valdemar, Ferreira
Fernandes, António Valdemar, Ferreira Fernandes, Rui Cardoso Martins, Maria
João Fernandes, Gonçalo Salvado, João Morgado, Manuel da Silva Ramos, José
Manuel Castanheira, Tânia Ganho e Andrea Zamorano foram os escritores que
desfilaram com palavras bonitas e ideias igualmente encantatórias, mostrando
que lugares imaginários há muitos e que todos podemos viajar para lá.
Para
Nuno Júdice, “a viagem dos escritores é a viagem dentro deles” e Tatiana
sublinhou que “é necessário viajar, depois “vira” a realidade para a imaginação”.
Quanto aos lugares, “são sempre uma soma dos lugares que a gente viveu ou
imaginou”. “A literatura tem esse poder de nos levar a outros lugares antes do
avião.”
Salientamos
as palavras de Raquel Ochoa, segundo a qual “a realidade ultrapassa a
imaginação”. Para o demonstrar afirma que a realidade não cessa de nos
surpreender, como é o caso da casa mais rica do mundo, na Índia, que é um
prédio, com heliporto e todas as comodidades, 600 empregados e a vista para a
grande favela junto ao aeroporto, coisa que ninguém poderia imaginar!
Ana
Cássia partiu da insónia para, depois de viajar por muitas palavras e por muitos
lugares imaginários, achar que um lugar imaginário, referido por um amigo, que
lhe curava a insónia, só podia vir de um livro.
Retomando
a realidade, Pedro Eiras referiu que “o real é apenas um dos lugares possíveis.
Se calhar nem é o melhor.”
João
Morgado, escritor natural da Covilhã, que lançou o seu livro Vera Cruz, recentemente, viaja até à sua
infância na ruralidade da casa dos seus avós para dizer que a sua “primeira
ficção foi criar diálogos entre as sombras” que via. Com nostalgia, refere-se
carinhosamente ao facto de ter ouvido na rádio “os grandes clássicos à luz dos
candeeiros a petróleo”.
Mais
tarde, João Ricardo Pedro retomaria este mesmo tema ao afirmar que “os lugares
de infância de cada um tornam-se lugares imaginários. Muita da inspiração que teve
no seu ainda único livro O teu rosto será
o último foi buscá-la à sua infância, quando passava férias em São Miguel d’Acha e ouvia as mesmas histórias, contadas pelas
mesmas pessoas, ano após ano, no lagar de azeite da aldeia. Quanto ao escritor,
este foi o seu primeiro contacto com a literatura.
Manuel
João Ramos, antropólogo, amante da Etiópia, para onde viaja anualmente e onde
recolhe histórias da sua literatura oral, introduz no festival a ideia de que
nós vivemos numa “bolha” que é a Europa e que não traduz, de modo algum, o
mundo. “A vida fora da bolha é infinitamente complicada.”
Em
pleno piquenique literário, José Manuel Castanheira apresentou o seu livro da viagem
que fez com o seu filho por terras italianas, intitulado Viagem a Itália.
Na
noite de sábado, Alexandre O’Neil foi homenageado com a peça “Portugal meu
remorso”, com direcção artística e interpretação de João Reis e Ana Nave.
Enfim,
o 2º Festival da Gardunha, com o tema “lugares imaginários”, proporcionou, ao
longo de três dias, várias viagens em que, sem sair do mesmo lugar, pudemos entrar
numa multiplicidade de lugares, todos eles imaginários, por força dos livros e
de quem os escreve, para bem de todos.
Ler
os livros dos autores participantes neste festival será ainda uma outra viagem,
maior ainda do que aquela que foi estar presente no evento e que propomos a
todos os nossos seguidores.