terça-feira, 10 de novembro de 2015

VIAGEM PELAS LETRAS - O NÚMERO DOS VIVOS


Correia, H.(1997). O número dos vivos. Relógio d’Água.
A Viagem pelas Letras de hoje embarca no livro de Hélia Correia O número dos vivos.
Romance quase realista, surpreende-nos por toques de novidade introduzidos num realismo quase puro.
É a história de uma rapariga do campo, Maria Emília, que, por ser fêmea, nunca tivera o amor paterno, que se dedicara inteiramente ao seu irmão, João.
A sua madrinha, Emília Inácia, uma velha senhora, ofereceu-lhe, no dia do seu 16º aniversário, um espelho, objeto que será determinante para o futuro de Maria Emília, para que pudesse observar a sua rara beleza, que a distanciaria daquele seu mundo original.
E, na sequência deste acontecimento, Maria Emília vai para Sangréus fazer companhia a uma menina filha única. Nunca mais voltará a ver os seus familiares nem a terra onde nasceu.
É a partir daqui que Maria Emília entra numa nova vida que a conduzirá a um casamento próspero, mas que deita a perder por via da sua quase insanidade.
Hélia Correia, neste  romance, adota um estilo realista, que subverte e através do qual entra numa densa teia de acontecimentos, alguns inesperados e levados quase ao limite, os quais conferem notas de um feminismo muito característico do século XX e que quebram o estilo realista puro, ultrapassando-o. Como exemplo, temos o caso da protagonista, Maria Emília, que ocupa o lugar da heroína ficcional, ao contrário do que seria de esperar, uma vez que é oriunda de uma classe social operária e acaba por ser parodiada. Digamos que a escritora criou “uma anti-heroína feminina da classe operária que é duplamente marginal em relação aos valores patriarcais de classe média”. Como a prefaciadora, Hilary Owen afirma, “O número dos vivos é um pastiche da tentativa histórico-literária da mulher de converter por dentro o realismo clássico.”.

O número dos vivos é o meu conselho desta semana, eu que sou a Margarida Ferreira.

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