Correia, H.(1997). O número dos
vivos. Relógio d’Água.
A Viagem pelas Letras de hoje embarca no livro de Hélia Correia O número dos vivos.
Romance quase realista, surpreende-nos por toques de novidade
introduzidos num realismo quase puro.
É a história de uma rapariga do campo, Maria Emília, que, por ser
fêmea, nunca tivera o amor paterno, que se dedicara inteiramente ao seu irmão,
João.
A sua madrinha, Emília Inácia, uma velha senhora, ofereceu-lhe, no dia
do seu 16º aniversário, um espelho, objeto que será determinante para o futuro
de Maria Emília, para que pudesse observar a sua rara beleza, que a
distanciaria daquele seu mundo original.
E, na sequência deste acontecimento, Maria Emília vai para Sangréus
fazer companhia a uma menina filha única. Nunca mais voltará a ver os seus
familiares nem a terra onde nasceu.
É a partir daqui que Maria Emília entra numa nova vida que a conduzirá
a um casamento próspero, mas que deita a perder por via da sua quase
insanidade.
Hélia Correia, neste romance,
adota um estilo realista, que subverte e através do qual entra numa densa teia
de acontecimentos, alguns inesperados e levados quase ao limite, os quais
conferem notas de um feminismo muito característico do século XX e que quebram
o estilo realista puro, ultrapassando-o. Como exemplo, temos o caso da
protagonista, Maria Emília, que ocupa o lugar da heroína ficcional, ao
contrário do que seria de esperar, uma vez que é oriunda de uma classe social
operária e acaba por ser parodiada. Digamos que a escritora criou “uma
anti-heroína feminina da classe operária que é duplamente marginal em relação
aos valores patriarcais de classe média”. Como a prefaciadora, Hilary Owen
afirma, “O número dos vivos é um
pastiche da tentativa histórico-literária da mulher de converter por dentro o
realismo clássico.”.
O número dos
vivos é o meu conselho desta semana, eu que sou a Margarida Ferreira.
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