terça-feira, 23 de abril de 2024

Trova do vento que passa, Manuel Alegre

 

Trova do vento que passa


Pergunto ao vento que passa

notícias do meu país

e o vento cala a desgraça

o vento nada me diz.


Pergunto aos rios que levam

tanto sonho à flor das águas

e os rios não me sossegam

levam sonhos deixam mágoas.


Levam sonhos deixam mágoas

ai rios do meu país

minha pátria à flor das águas

para onde vais? Ninguém diz.


Se o verde trevo desfolhas

pede notícias e diz

ao trevo de quatro folhas

que morro por meu país.


Pergunto à gente que passa

por que vai de olhos no chão.

Silêncio -- é tudo o que tem

quem vive na servidão.


Vi florir os verdes ramos

direitos e ao céu voltados.

E a quem gosta de ter amos

vi sempre os ombros curvados.


E o vento não me diz nada


ninguém diz nada de novo.

Vi minha pátria pregada

nos braços em cruz do povo.


Vi minha pátria na margem

dos rios que vão pró mar

como quem ama a viagem

mas tem sempre de ficar.


Vi navios a partir

(minha pátria à flor das águas)

vi minha pátria florir

(verdes folhas verdes mágoas).


Há quem te queira ignorada

e fale pátria em teu nome.

Eu vi-te crucificada

nos braços negros da fome.


E o vento não me diz nada

só o silêncio persiste.

Vi minha pátria parada

à beira de um rio triste.


Ninguém diz nada de novo

se notícias vou pedindo

nas mãos vazias do povo

vi minha pátria florindo.


E a noite cresce por dentro

dos homens do meu país.

Peço notícias ao vento


e o vento nada me diz.


Quatro folhas tem o trevo

liberdade quatro sílabas.

Não sabem ler é verdade

aqueles pra quem eu escrevo.


Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça

há sempre alguém que semeia

canções no vento que passa.


Mesmo na noite mais triste

em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.


Manuel Alegre e António Portugal, 1963

Cântico, Miguel Torga


Cântico

Mundo à nossa medida

Redondo como os olhos,

E como eles, também,

A receber de fora

A luz e a sombra, consoante a hora


Mundo apenas pretexto

Doutros mundos.

Base de onde levanta

A inquietação,

Cansada da uniforme rotação

Do dia a dia.

Mundo que a fantasia

Desfigura

A vê-lo cada vez de mais altura.


Mundo do mesmo barro

De que somos feitos.

Carne da nossa carne

Apodrecida.

Mundo que o tempo gasta e arrefece,

Mas o único jardim que se conhece

Onde floresce a vida.


Poesia Completa de Miguel Torga, 2000

Letra para um hino, Manuel Alegre


 Letra para um hino


É possível falar sem um nó na garganta

é possível amar sem que venham proibir

é possível correr sem que seja fugir.

Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.


É possível andar sem olhar para o chão

é possível viver sem que seja de rastos.

Os teus olhos nasceram para olhar os astros

se te apetece dizer não grita comigo: não.


É possível viver de outro modo. É

possível transformares em arma a tua mão.

É possível o amor. É possível o pão.

É possível viver de pé.


Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.

É possível viver sem fingir que se vive.

É possível ser homem.

É possível ser livre livre livre.


Manuel Alegre- em “O Canto e as Armas” (1967)

Com mãos se faz a paz se faz a guerra, Manuel Alegre

 

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.

Com mãos tudo se faz e se desfaz.

Com mãos se faz o poema – e são de terra.

Com mãos se faz a guerra – e são a paz.


Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.

Não são de pedras estas casas mas

de mãos. E estão no fruto e na palavra

as mãos que são o canto e são as armas.


E cravam-se no Tempo como farpas

as mãos que vês nas coisas transformadas.

Folhas que vão no vento: verdes harpas.


De mãos é cada flor, cada cidade.

Ninguém pode vencer estas espadas:

nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre-As mãos in “O Canto e as Armas” (1967)

segunda-feira, 22 de abril de 2024

25 de Abril, Sophia de Mello Breyner Andresen


 25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava


O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen, O Nome das Coisas, 1974

A formiga no carreiro, José Afonso (Zeca Afonso)

 

A formiga no carreiro

Vinha em sentido cantrário

Caiu ao Tejo

Ao pé dum septuagenário

Larpou trepou às tábuas

Que flutuavam nas águas

E de cima duma delas


Virou-se pró formigueiro

Mudem de rumo

Já lá vem outro carreiro


A formiga no carreiro

Vinha em sentido diferente

Caiu à rua

No meio de toda a gente

Buliu buliu abriu as gâmbias

Para trepar às varandas

E de cima duma delas

Virou-se pró formigueiro

Mudem de rumo

Já lá vem outro carreiro


A formiga no carreiro

Andava a roda da vida

Caiu em cima

Duma espinhela caída

Furou furou à brava

Numa cova que ali estava

E de cima duma delas

Virou-se pró formigueiro

Mudem de rumo

Já lá vem outro carreiro


José Afonso (Zeca Afonso), 1973

Abril de sim Abril de não, Manuel Alegre


 ABRIL DE SIM ABRIL DE NÃO


Eu vi Abril por fora e Abril por dentro

vi o Abril que foi e o Abril de agora

eu vi Abril em festa e Abril lamento

Abril como quem ri como quem chora.


Eu vi chorar Abril e Abril partir

vi o Abril de sim e Abril de não

Abril que já não é Abril por vir

e como tudo o mais contradição.


Vi o Abril que ganha e Abril que perde

Abril que foi Abril e o que não foi

eu vi Abril de ser e de não ser.


Abril de Abril vestido (Abril tão verde)

Abril de Abril despido (Abril que dói)

Abril já feito. E ainda por fazer.

 

Manuel Alegre, do livro: "Chegar aqui", 1984, in Atlântico, Publicações Dom Quixote, Portugal, 1989

Abandono, David Mourão-Ferreira

 

Abandono

Por teu livre pensamento

Foram-te longe encerrar.

Tão longe que o meu lamento

Não te consegue alcançar

E apenas ouves o vento

E apenas ouves o mar.

 

Levaram-te a meio da noite:


A treva tudo cobria.

Foi de noite, numa noite

De todas a mais sombria.

Foi de noite, foi de noite,

E nunca mais se fez dia.


Ai dessa noite o veneno


Persiste em me envenenar.

Oiço apenas o silêncio

Que ficou no teu lugar.

Ao menos ouves o vento!

Ao menos ouves o mar!


David Mourão-Ferreira, 1959

domingo, 21 de abril de 2024

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio, Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio

E suportar é o tempo mais comprido.

 

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,

Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.

 

Há muitas coisas que eu quero ver.

 

Peço-Te que sejas o presente.

Peço-Te que inundes tudo.

E que o teu reino antes do tempo venha.

E se derrame sobre a Terra

Em primavera feroz precipitado.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen - Em “Coral”, 1950

“Constituição – o jogo”, na Biblioteca de Valverde

No dia 17 de abril, realizou-se mais uma atividade na Biblioteca Escolar de Valverde. Tomando como mote a comemoração dos 50 anos do 25 de abril e aproveitando a chegada à escola do jogo “Constituição”, os alunos do 4.º ano ficaram a compreender melhor a democracia e a liberdade.

Este jogo de tabuleiro tem como principais objetivos reforçar a literacia democrática, educar para a participação cívica e celebrar os valores da Constituição da República Portuguesa e resultou de um projeto dinamizado pela Beira Serra, no âmbito do projeto CIVITAS. A sua elaboração envolveu crianças de sete agrupamentos, entre os quais o Agrupamento de Escolas do Fundão.

O jogo foi o ponto de partida para uma conversa sobre a Constituição e os valores da liberdade e da democracia. À medida que avançavam no tabuleiro, e com a ajuda das perguntas, os alunos puderam refletir sobre assuntos importantes para a sua formação cívica.

Foi uma manhã divertida e com muitas aprendizagens!

                                                                                                   [docente Ana Cristina Pacheco]







sexta-feira, 19 de abril de 2024

Ler em Família, na EB1 de Alcaria

Continuam as atividades de promoção de Leitura na EB1 de Alcaria. Como nos conta a professora Ana Paula Silva, "tendo a Família um papel importante  na promoção da leitura dos mais pequeninos, a atividade  "Ler em família" continua a ser  importante para as nossas crianças. Assim no dia 8 de abril recebemos a mãe do Francisco Garcia, do 2º ano que veio ler para as duas turmas a história "Uma história de Amizade" de Alex Latimer e David Litchfield. Uma história muito bonita e que deixou uma mensagem importante.



segunda-feira, 15 de abril de 2024

Início das atividades do 3º período na Biblioteca Escolar de Valverde


O dia dez de abril marcou o início das atividades do 3.º período na Biblioteca Escolar de Valverde e foi dedicado a distinguir os melhores leitores do período passado.

Como vem sendo habitual, as tardes de quarta-feira são dedicadas à entrega de livros com elaboração das respetivas fichas de leitura e à requisição de novos livros. Os alunos continuam a participar com grande entusiasmo e a afluência tem sido relevante, uma vez que durante o 2.º período foram requisitados duzentos e vinte e quatro livros, num universo de vinte e nove alunos.

Feitas as contagens de requisições individuais chegou-se ao Pódio da Leitura. Em terceiro lugar, com oito livros requisitados ficaram: Miguel Costa, Lourenço Pinto, Sónia Pinto, David Lourenço, Simão Campos, Camila Machial e Anita Morgado. Em segundo lugar, com nove livros requisitados: Afonso Brito, Carolina Costa, Isaac Santos, João Leitão, Carlota Cordeiro e Henrique Catorze. E, no primeiro lugar, com um total de dez livros requisitados, destacaram-se as seguintes alunas: Catarina Chaves, Luena Batista, Bianca Roque, Sofia Mendes, Laura Araujo e Camila Catana.

De acordo com a posição ocupada, receberam medalhas (ouro, prata e bronze) e ainda certificados para os que ficaram em primeiro lugar.

É com grande satisfação que se verifica que os objetivos propostos no início do ano estão a ser atingidos e a apresentar resultados, estando os alunos a demonstrar muito gosto pela leitura e pelas atividades realizadas na Biblioteca.

                                                                                      [docente Ana Cristina Pacheco]





Partilha de leituras na Biblioteca Escolar de Valverde

Na Biblioteca de Valverde as atividades continuam a bom ritmo e, desta vez, a aluna do 2.º ano, Laura Araújo orientou uma sessão de leitura. Trouxe o livro de casa e demonstrou muito interesse em o ler para os colegas, uma vez que gostou do texto e das imagens.

Assim, no dia 10 de abril, todos se reuniram na Biblioteca para a ouvir ler o livro “A Raposa Fabulosa”, da autoria de Pedro Seromenho e com ilustrações de Sebastião Peixoto. Trata-se de uma obra infantil inspirada na Serra da Estrela e nas personagens que a habitam e enriquecem, como corvos, raposas e lobos.

A Laura esteve muito concentrada e empenhada e realizou a sua tarefa com sucesso. Como o livro era extenso, escolheu três amigas para a ajudarem a ler as últimas páginas. Foram elas a Anita Morgado, a Beatriz Lourenço e a Victória Abrantes.

No final, houve tempo para um breve diálogo sobre a persistência, a força de acreditarmos na realização dos nossos sonhos e sobre o respeito e amor à natureza.

Parabéns à Laura e às suas amigas!

                                                                                                         [docente Ana Cristina Pacheco]








sábado, 6 de abril de 2024

Cinema para todos durante a Semana Aberta

No passado dia 20 de março, no âmbito da Semana Aberta do Agrupamento de Escolas do Fundão e para assinalar a Semana da Leitura, o Plano Nacional de Cinema, a BECRE e a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento apresentaram o filme “A Livraria”, de Isabel Coixet.
O filme foi exibido no anfiteatro do agrupamento e contou com um público constituído por 118 pessoas. Com este filme, os nossos alunos tiveram a oportunidade de comprovar a importância da leitura e dos livros na sua formação enquanto seres humanos mais completos e informados.
Aqui ficam alguns registos fotográficos dessa sessão cinematográfica, enviados pela Coordenadora do Plano Nacional de Cinema do AEF, Inês Duarte, que também nos enviou esta informação.


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