terça-feira, 22 de abril de 2025

Bibliotecas Humanas: quando a História se conta na primeira pessoa

Nesta sessão da nossa iniciativa, Bibliotecas Humanas, os alunos do Ensino Secundário que estudam História ouviram de Fernanda Santiago muito mais do que um testemunho - ouviram História viva. Do salto para França à descolonização de Angola, passando por um campo de refugiados na África do Sul, Fernanda contou como viveu os grandes acontecimentos que os manuais escolares não conseguem explicar por inteiro. E os alunos escutaram, em silêncio, como só se escuta quem realmente sente...


        Biblioteca Humana … com Fernanda Santiago

    Na penumbra acolhedora da “Biblioteca Humana”, Fernanda Santiago ajeitou-se na cadeira,respirou fundo e começou a contar sua história. A sua voz tremia levemente, carregada pelo peso de uma vida marcada por partidas e recomeços. Os alunos, atentos, mergulhavam na sua história, sentindo cada emoção escondida nas pausas, nos sorrisos e nos suspiros.
    Os seus olhos brilhavam com a intensidade de quem revive cada momento ao falar da partida para França a salto, guiada pelas mãos firmes da família. A promessa de uma vida melhor escondia a dureza da emigração, a saudade silenciosa de uma terra beirã deixada para trás.
    Mas a vida reservava-lhe outros planos. Já adulta, Fernanda casou-se por procuração e partiu para Angola, onde o amor a esperava. Sonhava com um futuro ali, até que o 25 de Abril e a descolonização transformaram o sonho em medo.
    A fuga tornou-se inevitável, pensando que ia ser breve. África do Sul foi o destino, mas não a salvação imediata. No campo de refugiados, viveu o impensável – a fome, a doença, a incerteza, a luta diária pela dignidade. Perdeu-se da família. Depois da sua curta e dura estadia na África do Sul, onde nasceram as suas filhas, símbolos de resistência e esperança, e onde, no meio da tempestade, acabaram por encontrar pessoas amigas, Fernanda e a família melhoraram a sua vida. Conseguiram reunir meios para voltar para Portugal, para a sua beira, onde também com muita dureza, reiniciaram o seu projeto de vida, que haveria de ser coroado de muito sucesso.
    Ao fim do relato, o silêncio na sala era de pura emoção. Cada aluno ali não apenas ouviu a sua história, mas sentiu-a, ao ritmo da viragem de cada página, marcada pelas fotos projetadas.
    Fernanda não era só uma sobrevivente – era uma prova viva de resistência, de esperança e do poder que uma história tem de nos unir.

[Texto e fotos: Prof:ª Ana Brioso]






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